No começo da adolescência, lá pelos idos de 1998, uma prima me apresentou Júlio Verne, e pouco depois conheci Agatha Christie num corredor de biblioteca. Assim, demorou – muito – para que os livros nacionais me chamassem a atenção ou me interessassem de alguma maneira. Eu sei, mea culpa… Este cenário começou a mudar quando me caíram nas mãos, num período relativamente curto de tempo os quatro livros a seguir:
O Cortiço Esta obra de Aluísio Azevedo caiu em minhas mãos graças a proximidade do vestibular e uma enormemente alardeada lista de leitura que algumas universidades exigiam. Li um tanto quanto despreocupadamente, porém não demorou muito e a narrativa me fisgou: os personagens são vívidos, uma verdadeira coleção das figuras da época e seus costumes, e inesquecíveis. Quem não se surpreendeu com o fim de Pombinha? E o da pobre Bertoleza? O Cortiço conquistou minha admiração por não centrar sua narrativa em um personagem em específico, mas sim em cada um dos moradores, sejam eles negros, baianos, malandros, lavadeiras, e etc, isso sem se perder na própria história que se propõe a contar.
O Grande Mentecapto Meu irmão leu este livro antes de mim, e simplesmente gargalhava ao fazê-lo, o que aguçou minha curiosidade de lê-lo. Escrito por Fernando Sabino em 1979, o livro nos apresenta o amplamente adjetivável Geraldo Viramundo, em sua epopéia pelo estado de Minas Gerais, vivendo aventuras impensáveis e de uma comicidade que dificilmente é vista em outros títulos – e que me faz lamentar profundamente o fato de Sabino ter escrito tão poucos romances, apesar de também ser genial como cronista – em sua eterna inocência perante o mal e a malícia do mundo que o rodeia, não se afligindo com nada que lhe é imputado: as mentiras, a violência, o desprezo, e até mesmo as agressões físicas. Impossível esquecer as passagens que narram a revolta das prostitutas, o jantar com o governador e su estada no exército. Ao lado de outros personagens igualmente inesquecíveis, como Capitão Batatinhas, vive em seu mundo particular como se tudo fosse verdade, até que a verdade sobressai. O fim de Viramundo é trágico, e, ao meu ver, desmerecido.
O Coronel e O Lobisomem Tinha uma vaga lembrança de ter visto este título na TV, mas esta lembrança é tão vaga – isso foi antes de o filme chegar aos cinemas – que nem posso fazer uma comparação entre os dois, então resolvi ler o livro ao me deparar com ele num canto de prateleira. Escrito por José Cândido de Carvalho e publicado em 1964, este foi um dos livros que mais prendeu minha atenção, me fazendo querer chegar logo ao desfecho da vida e aventuras do Coronel Ponciano de Azeredo Furtado, um homem que, por meio de uma herança conquista propriedades, porém com pouco entendimento de gestão de recursos, e com uma certa tendência a se encantar por mulheres casadas, tornando-se facilmente escravo destas. Se há uma coisa que Ponciano faz com propriedade é desencantar assombrações, inclusive o lobisomem do título, assim como figuras emblemáticas, como o cobrador de impostos – aqui eu deveria me sentir ofendido… Solteirão, sem sorte no amor, destemido e cheio de si, Ponciano de Azeredo Furtado é um personagem cativante como poucos, com um triste fim como muitos.
Fogo Morto O primeiro livro de José Lins que li foi Menino de Engenho, graças a obrigatoriedade de sua leitura para fins de avaliação do colégio, e etc. Não gostei muito, em grande parte devido ao seminário que deveria ser apresentado em seguida e aos quais sempre fui avesso, mas foi o suficiente para que me interessasse pelo autor e ficasse tentado a ler outro livro seu. Optei então por Fogo Morto. O livro conta a decadência dos senhores de engenho, outrora tão poderosos, como do Coronel Lula de Holanda, meu conhecido de Menino de Engenho. Para tanto, a obra foi dividida em 3 partes, cada uma focada em um personagem, apesar de eles se inter-relacionarem (não sei escrever isso) durante todo o livro, sendo eles o Mestre José Amaro, um seleiro rancoroso com tendências depressivas, pai de uma filha com problemas mentais, agressivo com a mulher e, com o andar da história, ganha fama de lobisomem; o Coronel Lula de Holanda, um senhor de engenho decadente e, ao meu ver, completamente sem juízo; e o Capitão Vitorino “Papa-Rabo”, um idealista nato, considerado por muitos críticos como quixotesco e o personagem mais bem construído da literatura nacional. Fogo Morto é, por assim dizer, uma obra completa, que bem merece o status que possui.
Analisando agora, percebi uma terrível coincidência entre os 4 títulos: o final trágico. Será mera coincidência?
Com | Wikipédia
PS: Este post foi publicado, originalmente, em 27 de Maio de 2010, lá no pontoLIVRO, meu blog sobre livros que decidi encerrar.
7 comentários:
Caramba não li nada de José Lins do Rego. São muitos livros pra ler e a vida é curta :-) Obrigada por me lembrar deste lapso. Ah, e obrigada pela força com o livro.
bjs
É verdade Vanessa, há muito para se ler e pouco tempo para fazê-lo. Mas José Lins vale a pena. Cada página.
Beijo.
Vai lá no meu blog, meu amigo secreto.
abçs
Ola,
venho sempre por aqui e sempre apareço no pontoLIVRO, por que vai acabar com ele? Falta de tempo?
Tenho um post sobre o Coronel e o Lobisomem e com certeza mais dia ou menos dia vou falar de cada um desses livros, de José Lins do Rego gosto muito de Menino do Engenho, de Fernando Sabino gosto muito das crônicas, também tenho um post sobre ele, mas é um livro infantil. O Cortiço é imbatível, uma descrição perfeita dos cortiços do começo do século XX no Rio. Achei bacana você fazer mea culpa sobre literatura brasileira, eu semre procuro falar de autores nacionais.
abs
Jussara
Jussara,
Acho que não faz muito sentido manter um outro blog só para falar de livros. É muito mais simples postar aqui no Gule, que, inclusive, tem uma visibilidade maior que o pontoLIVRO.
Muito obrigado por acompanhar os dois, rrs. GRande abraço.
Luciano
Confesso que sou fissurada por Agatha Christie. Minha mãe estava sempre lendo uma de suas histórias e nunca liguei e agora depois de velha comecei a ler e amei.
Ler seu post me fez acordar para as leituras Nacionais que desde os tempos de colégio muito raramente voltei a ler um.
Essas férias de janeiro já reservei alguns e vou incluir o Culpa de Mãe da Vanessa e o Cabra Cega da Sheila Mendonça.
Beijos
Irene,
Pois é, demorei muito tempo para dar atenção à literatura nacional, e hoje tento corre atrás do prejuízo - terminei Incidente em Antares recentemente. Mas nunca é tarde para rever isso.
Também estou de olho no livro da Vanessa, espero poder comprá-lo em breve.
Beijo.
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