"You don’t have to burn books to destroy a culture. Just get people to stop reading them." - Ray Bradbury.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

[Re] O Carnaval e eu

Publiquei este post no dia 14 de fevereiro de 2009, como parte de uma blogagem coletiva sobre o Carnaval proposta pela Tine Araújo. Este ano a Mylla Galvão, do Idéias de Milene sugeriu um tema parecido para uma blogagem, então resolvi republicar este post, uma vez que as minhas lembranças de Carnaval ainda são as mesmas.
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A Tine Araújo propôs, então vamos atendê-la.

A idéia é falar sobre coisas ou fatos que aconteceram no Carnaval. Bem ou mal, todo mundo tem uma história de Carnaval.

Nunca fui fã de Carnaval. Por aqui, nos 3 ou 4 dias de festa tocam axé, pagode e sertanejo, ou seja, tudo o que eu não gosto. De uns tempos pra cá também estão tocando funk, mas, por mais que me esforce, não consigo me imaginar dançando o créu sem um generoso sentimento de ridículo.

Em cidade pequena festas como estas dependem diretamente da prefeitura municipal, se não há verba, não há festa, simples assim. Pra minha felicidade, quase sempre não há verba, então...bem, então resta assistir aos desfiles pela Globo, o que é bom, pois é uma festa pra gringo ver, mais organizada, bonita e eróticamente competente :P

Tenho duas lembranças distintas de festas de Carnaval que participei. Na mais antiga devia ter uns cinco anos de idade, e minha mãe me fez ir a uma matinê, debaixo de um sol dos infernos usando um ridículo chapéu de plástico amarelo com uma pena enfiada numa fita.

Estava ridículo, no mínimo gay, mas tinha apenas cinco anos... Nunca me senti tão deslocado, "A pipa do vovô não sobe mais" e "Ai, a bruxa vem aí..." se repetiam a exaustão nos alto-falantes, e naquele tempo já desconfiavam do Zezé e sua cabeleira. As crianças dançavam feito doidas, resolvi ir dançar também. De cara olharam meu chapéu, apenas EU estava usando um em todo o clube, sem pensar duas vezes o arremessei como um frisbee fazendo ele sumir no meio da pista, os moleques gritaram, aplaudiram e me estenderam o braço, "simbora dançar", no esquema das correntes, ou seja, um com o ombro no sovaco do outro. Se você era um garoto magrelo de cinco anos não devia ficar na ponta de uma corrente que girava para todas as direções por todo o clube, ainda mais se seus companheiros fossem maiores que você, ou então correria o enorme risco de ser arremessado para longe numa guinada mais brusca.

Claro que foi o que aconteceu. Sai meio que voando meio que me debatendo pelo chão até parar uns metros à frente, duvido que meus companheiros de corrente tenham percebido alguma coisa, aliás quase ninguém percebeu, a não ser quando outras três correntes foram ao chão depois de me pisotear. Não me lembro quem me ajudou a levantar e me levou pra casa, minha última lembrança é ver o garoto que mais me olhou torto por causa do chapéu estar dançando com o meu chapéu enfiado na cabeça; e o Silvio Santos ainda mandava a ver na cantoria com seu coração corintiano.

A segunda lembrança é um pouco melhor. Tinha 19 anos e quase me acabei de pular e beber numa festa de Carnaval, mas não, eu não estava comemorando o Carnaval, estava comemorando minha aprovação no vestibular da Unesp, uma coisa inesperada para quem apenas estudou em casa, ainda mais para quem só estudou geografia e história. Naquele ano, era 2005, tive motivos para comemorar, estava aprovado numa excelente universidade, e no curso de meus sonhos: Biblioteconomia.

Que eu me lembre, nunca antes tinha dançado ou bebido tanto, e poucas vezes estive tão feliz. Recebi uma avalanche de felicitações, de "você merece" ou "eu já sabia", e de velhos professores dizendo "eu fui professor dele", ao que a diretora da escola na qual sempre estudei (ela também minha ex professora) completava "e sempre estudou na nossa escola". Naquele ano me juntei a meu irmão, graduando em Física na Unesp, e minhas primas, uma graduada em Pedagogia na Unesp e mestranda na Unicamp, a outra graduada em Geografia na Unesp e mestranda na USP (as duas irmãs), e passei também, a ser uma espécie de atestado da qualidade do ensino público daqui. E, claro, naquele Carnaval também tiveram as cervejas grátis. Mas não passou disso, ou pelo menos o que posso contar aqui não passou disso.

Este foi um bom Carnaval como pano de fundo para a comemoração de uma realização pessoal, pena que não tenha durado tanto. Um mês depois adoeci, pensei que fosse morrer e de todos os cantos vinham parentes me visitar (acho que eles pensavam que sua visita era um tipo de extrema unção), e pra Biblioteconomia tive de dizer adeus.

Infelizmente não ficaram registros nem de A nem de B, nenhuma foto, nada. Só lembranças. Mas já é o suficiente. Ao menos para mim.

Este ano não teremos Carnaval por aqui, pois é, não teremos verba. Mas pra quem vai curtir a folia em algum lugar, peço juízo, e lembrem-se, pior que se separar do amor de verão é a gravidez pós Carnaval.

5 comentários:

Luciano A.Santos disse...

Oi Mylla,

Fiquei mais machucado no orgulho que no corpo, rsrs, e essas coisas demoram um pouco para passar. Também lamento não ter feito Biblioteconomia, a meu ver era um curso no qual me daria bem, mas fazer o que, hoje sou Contador e gosto do "título".

Um grande abraço, e bom Carnaval!!!

Marina disse...

Ah, eu adoro carnaval e, felizmente, Recife e Olinda sempre estarão aqui, brilhando em todos os carnavais. Amo o carnaval daqui, com frevo, caboclinho, maracatu. Não consigo pensar em um carnaval sem isso.

Ótimo feriado para você, então.
Beijos.

M. Nilza disse...

Oi, Luciano!!

Bom dia! Não preciso dizer que ri muito de sua história até pq vc a conta como ngm..rsssssssss
Acho que esse ano será o "rebolecho" será que é assim quese escreve? rs

Eu tbm estou participando dessa!!
beijos e bom carnaval

Fabrício Santiago disse...

As vezes eu acho que as pessoas, de verdade, não devem gostar de carnaval, mas participam meio que empurradas pelo coletivo. De carnaval eu não gosto, e vejo que não estou sozinho. È um calor dos diabos, bebedeira, brigas, um erotismo vulgar, fantasia pinicantes....enfim, prefiro festa de São Jorge..rs
Abraços
Fabrício

Chica disse...

Putz, que experiência,heim? Eu não gosto de carnaval, passo longe!abração,tudo de bom,chica

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