Dias como o de hoje me fazem detestar meu trabalho. Tive de desempenhar uma de minhas atribuições, que, sem sombra de dúvida, odeio profundamente.
Não é fácil encarar um pai jovem - pouca coisa mais velho que eu, de olhos vermelhos, voz baixa, quase um sussurro e uma tremenda cara de derrota, - sentado na sua frente, negociando o pagamento do serviço de sepultamento de uma filha que nem chegou a nascer.
Não é humano olhar no fundo daqueles olhos, citar a lei que institui a cobrança e dizer um preço.
É terrível, mediante o espanto, devido ao alto valor cobrado, oferecer um parcelamento.
Me sinto menos humano, quase lixo.
Lembro dos momentos nos quais reclamo da minha vida e percebo o quanto eu sou feliz, e burro, por não perceber isso sempre.
É a vida.
0 comentários:
Postar um comentário