Hoje em dia existem rankings para tudo: dos mais influentes no Twitter, dos blogs mais linkados, das melhores coisas/lugares, dos mais vistos, tocados e ouvidos, dos mais vendidos, e etc.
Eu não confio muito em listas por que nunca se pode saber até onde influências externas e interesses podem molda-las, e, como toda metodologia tem sua falha, desvios podem existir. Ademais, um bom posicionamento em listas como a de mais vendidos, por exemplo, não são um atestado de qualidade. Há alguns anos atrás, o livro da ex-garota de programa Bruna Surfistinha permaneceu por mais tempo na lista dos mais vendidos da revista Veja que o livro do ex-presidente da república Fernando Henrique Cardoso. São livros díspares e quase incomparáveis, mas permitem avaliar que nem sempre uma boa colocação num ranking é prova de boa qualidade literária. O fato de um livro estar bem posicionado num ranking não necessariamente quer dizer que seja melhor do que os que ocupam uma colocação mais baixa no mesmo.
Mas até que ponto uma boa posição num ranking influencia um comprador? Levando-se em conta a óbvia publicidade que um título recebe quando entra num ranking de um grande veículo de comunicação, pode-se dizer que muito. As pessoas tendem a levar em conta em medida muito maior uma boa posição num ranking que um review favorável de um crítico especializado. A dupla Supla e João Suplicy, os Brothers of Brazil, acabaram de lançar um trabalho muito bem aceito pela crítica, mas as pessoas – principalmente os adolescentes de plástico – vão continuar comprando Cine e NX Zero.
No entanto, estas listas não são criadas – no caso de listas sobre “os mais vendidos” – para verificar ou atestar a qualidade de um determinado produto, mas sim para mapear o interesse do público alvo e mensurar o impacto dos lançamentos no mercado, além de se tornarem, para os publishers – editoras, gravadoras e afins – um excelente mapa para melhor alocarem seus investimentos conforme as áreas de maior interesse do público consumidor.
Para isso, as listas seguem uma metodologia complexa, que abrangem as diversas camadas de cada mercado. O NY Times, jornal mais influente do mundo, baseia suas listas de livros mais vendidos em pesquisas feitas em um universo de, segundo o próprio jornal, “milhares de locais onde uma grande variedade de livros de interesse geral são vendidos por todo o país. Estes incluem centenas de livrarias independentes (estatisticamente ponderados para representar todos os estabelecimentos deste tipo); cadeias nacionais, regionais e locais; varejistas online e entretenimento multimídia; universidade, supermercados, lojas de departamento e bancas de jornal”.
O concorrente USA Today diz que “a cada semana recolhemos dados de cerca de 7000 postos de venda que representam uma grande amostra do mercado: cadeias de livrarias, livrarias independentes, atacadistas e varejistas online”, e que, “de posse desses dados, podemos determinar os títulos mais vendidos”. Destes, os 50 mais vendidos integram a lista publicada na versão impressa do jornal, e os 150 a lista publicada pela versão on line. Vale ressaltar que para a formação do ranking do USA Today não há diferenciação de versões das obras, assim capa-dura e edições especiais de determinado título são somadas às vendas da versão original; e o ranking é o mesmo para os diferentes gêneros de literatura, como ficção, não ficção e auto-ajuda.
A Billboard, que publica rankings ligados ao mercado fonográfico, vai mais longe, e toma por base as vendagens de mais de 14 mil estabelecimentos dos EUA e Canadá e exige que tenham acesso à internet e sistema de controle de estoques, além de utilizarem recursos ainda mais avançados para mensurar as exibições em rádios, como sistemas semelhantes aos que buscavam submarinos durante a Segunda Guerra Mundial.
No Brasil, as revistas Veja e Época publicam rankings semanais segmentados por gênero (ficção, não-ficção e auto-ajuda e esoterismo) baseado nas vendas em livrarias das principais cidades do país, mas não esclarecem quais ferramentas são utilizadas para evitar desvios – que já ocorreram.
Mas se tenho tantas dúvidas acerca destas listas, porque sempre as leio?
Apesar de, como disse, não atestarem a qualidade do produto, as listas são uma excelente vitrine, e mostram ao potencial consumidor o que vem se destacando no mercado – considerando-se sua validade e autenticidade – e o que vale à pena conferir. Para mim as listas são válidas enquanto mostram ao consumidor tendências semelhantes ao seu perfil, e se distanciam das avaliações críticas que, nunca, ou somente em última instância, levam em conta o gosto popular.
2 comentários:
Luciano, tenho uma capacidade própria de perceber algumas coisas e não vou, nunca, com a manada, aliás, sempre escrevo sobre isso. O marketing é essencial e sabemos o quanto ele induz as pessoas. Eu sigo o que acho realmente interessante e compro apenas o que me encanta e jamais vou atrás de oportunismo ou relógios anunciados por mulheres seminuas. Nada a ver.
Post muito bem elaborado.
Abraços.
Luciano,também não confio nem um pouco nessa listas,mesmo porque grandes obras literárias,com algumas poucas excessões,raramente entram nessas listas.Belo post.Grande abraço.
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