Muito se tem discutido acerca do futuro da mídia impressa com a rápida disseminação do acesso à internet, e consequentemente, a uma facilidade e rapidez exponencialmente maiores do acesso à informação grátis. Destaco o grátis pois, na internet, tudo o que é pago não tem graça ou não chamará tanta atenção - fator crucial num mercado atulhado de oferta de conteúdo, e onde se sobressair em meio a horda é fundamental para sobreviver.
Porém a batalha pelo usuário da informação não se limita ao ringue virtual. Há muito os sites de notícias competem por usuários com a mídia impressa, fato que ganhou proporções inimagináveis com a ascensão dos blogs dedicados à informação e o advento de fontes confiáveis, como o The Huffington Post. Desde então se questiona se a mídia impressa - e principalmente os jornais, considerados por muitos como uma mídia morta - sobreviverá à esta revolução no acesso à informação.
N
o artigo The Daily Show publicado no Sunday Book Review do The New York Times na semana passada, Sir Harold Evans - editor do The Sunday Times of London de 1967 a 1981 e do The Times of London em 1981 e 82 - faz um review do livro Losing the News - The Future of the News That Feeds Democracy, de Alex Jones, que trata justamente do futuro dos jornais neste cenário - o da revolução da informação - e como podem reagir frente a um panorama nada animador.
Segundo Sir Evans, no livro de Jones, ele "destrói a noção de que notícias são definidas pela hora do dia (ou pela hora que acontecem" e diz que "o elemento mais importante no jornalismo [...] é a criação de uma nova consciência, proporcionada por meses de investigação, ou de uma implacável cobertura regular". Assim, a notícia nos jornais teriam de ser mais que apenas título e cabeçalho, como geralmente o são na internet, com pouca ou nenhuma profundidade; e teriam de ser embasadas por ampla e bem elaborada pesquisa.
E Jones continua ponderando, dizendo que "esse é o tipo de notícia que podemos perder. E justamente estas são as notícias que a geração da internet já abandonou". Atualmente, os usuários da informação prezam por rapidez e agilidade, não se importando, ou ao menos não se dando conta, do preço que poderá ter que arcar com notícias muitas vezes superficiais. Apesar de tudo, Jones ainda vê o jornal impresso vivo, como "o coração que pulsa nas comunidades, um meio quente e confortável, capaz de comandar uma audiência sustentável, assim como os livros têm feito, e no geral um produto de uma tecnologia subvalorizada, que é portátil, reciclável, de fácil leitura e barata" e também principal fonte de "comentaristas de rádio e tv, colunistas, escritores políticos e blogueiros" estimando que "85% das notícias baseadas em fatos provém de um jornal atento em pesquisar, gravar, explicar e investigar."
De acordo com Evans, "Jones pode ter algo de romântico, mas não é um reacionário." e sabe que o futuro é digital, um meio muito mais abrangente em sua inovação, além de ser o veículo escolhido pelo público mais jovem. Porém os sites não deverão se tornar um Atlas, pois segundo Jones "a cultura do jornalismo da web não suporta notícias detalhadas ou o jornalismo investigativo [...] Um artigo na internet com mais de 150 palavras é geralmente considerado muito longo e improvável de ser lido." Por outro lado, "como podemos esperar nos manter informados se teremos que nos contentar com todas as notícias que irão caber na tela de um celular?", ele questiona.
Jones duvida que empresas jornalísticas sem fins lucrativos podem preencher a brecha, e questiona a idéia de que os jornais possam obter receitas suficientes através dos sites. "Um híbrido de sucesso" ele argumenta "não pode ser criado a partir de duas culturas tão distintas. É como pedir para Sinatra cantar Blue Suede Shoes". No fim, ele fixa suas esperanças no desenvolvimento em separado de conteúdo on-line, com os donos dos grandes jornais baixando suas margens de lucro histórico e renunciando à estratégia de derrubar e queimar. Para Evans, ele tem razão: "destruir o valor editorial de um produto editorial é uma sandice." Sendo assim, formatar um conteúdo originalmente "de jornal" para que fique mais agradável a um leitor on-line seria a pior forma de se adequar à questão, pois o jornal perderia aquilo que talvez seja sua principal marca: sua qualidade editorial.
Evans conclui dizendo que "o que eu mais questiono é seu veredito [de Jones] acerca da realidade do potencial da web. Ela pode lidar muito bem com mais de 150 palavras, e os links podem abrir um panorama mundial de fontes multimídia. Eu amo os jornais, mas no final o que realmente importa é que não se estará salvando os jornais, como diz o próprio Jones, mas salvado a própria notícia."
Via NY Times.
3 comentários:
Mylla,
Também penso assim, e creio que pode ser apontada como tendência o novo formato de jornais que já estão em circulação, como o PubliMetro.
Se diminuírem o incômodo tamanho dos jornais convencionais eu já fico feliz.
Beijo.
Os jornais dificilmente vão acabar. As pessoas gostam de pegar no papel e ter algo para ler. É melhor do que ler na tela do computador. O problema na minha opinião é o conteúdo. Os jornais estão agonizado e tendo queda no número de leitores, porque a informação é pobre e muitas vezes tendenciosa. O jornalista não pode se achar o dono da razão. Ninguém é bobo como muitos deles pensam. Abraços.
A atualização constante, a oportunidade de publicação de conteúdos ilustrados em audio e video e a facilidade de interação tornou a internet um grande vilão do jornal impresso. Embora o jornal impresso tenha decaído não acredito que ele será extinto, até pq ele tem suas particularidades.
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