"You don’t have to burn books to destroy a culture. Just get people to stop reading them." - Ray Bradbury.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O Churchill de cá

Se existe uma regra no mercado é a de que um grande sucesso ofusca a concorrência. É como se você tentasse ver um pássaro que passa voando em frente ao sol.

E o mundo está repleto de exemplos que mostram como o mercado é ingrato: todo o mundo reverencia Michael Jackson desde os anos 70, mas quem ainda se lembra de Billy Ocean? Quantos livros você já leu de Charles Dickens? E de Thackeray? E quanto tempo você leva para se lembrar de um contemporâneo de Shakespeare? Um grande nome faz com que, inevitavelmente, esqueçamos de outro. A própria filha de Thackeray sugeriu ao pai que escrevesse como o Sr. Dickens!

Mas, se as coisas já ficam difíceis quando um alcança maior notoriedade que o outro, o que dizer quando possuem o mesmo nome e sobrenome? Isto se deu com Winston Churchill, o estadista britânico, e Winston Churchill, o escritor norte-americano.

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Winston Churchill, novelista norte-americano.

No artigo A Tale of Two Winstons, publicado no The Book Bench – se ainda não lê não sabe o que está perdendo – discute-se como duas pessoas com o mesmo nome, contemporâneos e notórios acabaram da forma como acabaram, um “um titã da história contemporânea - o primeiro-ministro na hora mais escura da Inglaterra - enquanto o outro continua a ser pouco mais do que uma de suas notas de rodapé.” [1]

Tudo começou com o sucesso do livro The Crisis, do Churchill de cá, que até hoje, estima-se, vendeu cerca de 1,2 milhões de exemplares, e que chegou a ser creditado como do estadista britânico – o Churchill de lá –sendo que, segundo Warren Hollrah [1], mesmo nos dias de hoje o engano ocorre em sites de grandes livrarias, como a Amazon, que atribuem ao britânico obras do americano. O Churchill de lá chegou a profetizar para o de cá que havia o risco de que as obras deste, no futuro, fossem atribuídas àquele, em muitas das cartas que trocaram entre si.

O interessante é que, apesar de, no campo das artes, o Churchill americano ter alcançado um sucesso estrondosamente maior [UPDATE: conforme se pode ver no comentário da Luma logo abaixo, o Churchill britânico ganhou o Nobel de Literatura em 1953, então devo afirmar que o Churchill americano fez um sucesso estrondoso de público, mas o britânio levou o Nobel. Ao que parece, o Churchill de cá parou de escrever na mesma época em que o de lá começou a ganhar notoriedade, o que pode ter contribuído para seu esquecimento], o Churchill britânico é o mais lembrado.

Não vou entrar no mérito de discutir o que é mais importante, a política ou a literatura, até por quê minha escolha seria um tanto quanto óbvia, e como este blog não fala de política, o que me importa é o Churchill de cá, que a história tratou de jogar no fundo do mais fundo e esquecido baú, mesmo vendendo milhões de livros no século retrasado .
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Mais sobre a relação dos dois Churchills no post original do The Book Bench, e no Folton Sun [1].

4 comentários:

Chica disse...

Bemn interessante esse teu post,Luciano!abraços, tudo de bom,chica

jamesp. disse...

Luciano,que post fantástico,meu caro.Suas colocações me colocoram para pensar no humor (e no mau humor)dessa entidade fantástica chamada mercado.E nas modas literárias.Você já leu "A Feira das Vaidades"(Vanity Fair) do Thackeray?Grande romance.
Um abração,meu amigo.

Luciano A.Santos disse...

James,

O mercado é impiedoso mas também nos livra rapidamente de muitas modinhas que aparecem por aí.

Sabe que nunca li nada de Thackeray? Como 90% do que li veio da biblioteca da escola onde estudei, acredito que o MEC conhece Dickens, mas nem tanto seu maior "rival". Se tiver a oportunidade eu o lerei.

Abraços.

Luma Rosa disse...

Eu li a biografia de Winston Churchill, escrita por Martin Gilbert e no livro, além de estadista, o persona era também novelista. Sei lá, agora fiquei bolada! Achei que fosse a mesma pessoa.
Aliás, no livro consta que sir Winston Leonard Spencer Churchill, ganhou o Nobel Prize em Literatura em 1953. Daí, imagino que um serviu ao outro para aumentar a popularidade de ambos e apenas um foi lembrado, pois se hoje com tanta informação, nos confundimos, imagina antigamente, onde as informações, eram basicamente passadas boca a boca?
Bom fim de semana! Beijus,

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