"You don’t have to burn books to destroy a culture. Just get people to stop reading them." - Ray Bradbury.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Ônibus 174


"No dia 12 de junho de 2000, um ônibus cheio de passageiros foi sequestrado no Rio de Janeiro, em plena luz do dia. O sequestrador, Sandro do Nascimento, aterrorizou suas vítimas durante 4 horas e meia, enquanto todo o país assistia ao drama transmitido ao vivo pela TV brasileira. Baseado numa extensa pesquisa sobre a cobertura do crime, com entrevistas e documentos oficiais, Ônibus 174 é uma investigação cuidadosa do sequestro - focalizando Sandro do Nascimento, sua infância, e como ele inevitavelmente estava destinado a se tornar um bandido."


Esta é a sinopse deste documentário nacional lançado em 2002 e dirigido por José Padilha, o mesmo diretor de Tropa de Elite. A produção busca retratar a figura de Sandro Barbosa do Nascimento, o sequestrador do ônibus, mergulhando em sua história de vida para que se entenda, ou se procure entender, como ele chegou ao ponto que chegou; sem, em momento algum, apelar para o sensacionalismo, tampouco para o sentimentalismo. Apenas se apresentam os fatos como estes ocorreram. E ponto.

Segundo o documentário, Sandro testemunhou, quando tinha apenas seis anos de idade, o brutal assassinato da mãe, uma pequena comerciante, o que o teria perturbado muito, provocando sua fuga da casa da tia materna, passando a morar na rua.

Como garoto de rua passa a roubar, pedir e usar drogas, sendo condenado várias vezes a medidas sócio-educativas, e, quando maior, à prisão. Sandro era um dos sobreviventes da Chacina da Candelária, ocorrida no Rio em 23 de julho de 1993, onde 6 menores e 2 maiores, todos moradores de rua, foram assassinados por policiais militares. Em junho de 2000, durante o assalto a um ônibus, não vê alternativas a não ser anunciar um sequestro depois que um dos passageiros faz sinal a uma viatura de polícia que passava pelo local.

Ao assistir ao documentário depara-se com uma perspectiva diferente da tragédia. Acompanhando o fato pela cobertura da imprensa, tem-se a visão de um marginal louco, pronto a estourar a cabeça dos reféns a qualquer momento, porém, reféns que sobreviveram ao fato relatam que, diversas vezes, o sequestrador teria dito que não as mataria, tendo, inclusive, "encenado" a execução de uma delas.

O resultado do sequestro é sabido por todos. Depois de quatro horas de terror, onde o sequestrador, por incontáveis vezes esteve sob a mira da polícia e absolutamente nada impedia que agissem, decide sair do ônibus com Geisa Firmo Gonçalves, uma das reféns. Então um policial se adianta, dando um tiro à queima roupa que atingiu não a Sandro Nascimento, mas a sua refém, no rosto. Sandro acaba dominado depois de fazer três disparos que atingem Geisa nas costas, que não resiste, e morre. Sob ameaças de linchamento pela população, é posto em um camburão, e 'sai' dele morto, asfixiado. Todos os policiais foram inocentados por um júri popular.

O que fica claro é como a própria sociedade cria tais marginais, e como a força policial e/ou o sistema carcerário os lapida fazendo com que se tornem piores do que são. Como bem diz um dos entrevistados no documentário, a sociedade trata os moradores de rua como invisíveis, apenas os ignoram, e seus ataques contra a ordem civil nada mais é que um grito de existência, um sinal de que existem. Claro que isto não justifica seus atos, mas faz, sim, sentido. E quando esses ataques ocorrem, a sociedade nada espera a não ser que a polícia faça seu papel, ou o papel que imaginam ser o da polícia, que é o de limpar as ruas de sua presença, mesmo que com seu extermínio, como o comprova uma pesquisa realizada pouco tempo depois da chacina da Candelária, onde grande parte da população apoiou os policiais, alegando que, naquela situação, era o correto a se fazer.

Não sou a favor do que fez o sequestrador, mas será que, se - e somente se - sua mãe não tivesse sido assassinada - grávida de 5 meses - na sua frente, ele teria ido parar nas ruas? E se, uma vez nas ruas e condenado a medidas sócio-educativas, tivesse encontrado nas instituições do Estado o devido apoio que seus estatutos se propõe a dar, ou à finalidade que insistem em afirmar que têm, será que teria chegado a tal nível de marginalidade?

O documentário é excelente, se embrenha pela história de Sandro e mostra uma visão imparcial de todos os fatos daquele dia, desde a apatia da polícia ao que realmente passou as vítimas do sequestro.

Tudo naquele dia poderia ter sido diferente, mas fazer conjecturas, a esta hora, é fácil.

Abaixo o trailler do filme - em inglês e baixa qualidade :(




Ônibus 174
no Imdb.

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